As Deusas como Imagens Interiores: Explorando Arquétipos Femininos
Texto extraído do livro: as deusas e a mulher
nova psicologia das mulheres: Jean shinoda Bolen
O encontro de Ann com um bebê cianótico desencadeou uma conexão emocional profunda, um elo entre duas almas. Esse episódio, compartilhado por Anthony Stevens, psiquiatra e autor, que estudou elos afetivos entre enfermeiras e crianças órfãs na Grécia, ilustra como imagens interiores podem moldar nossa psique de maneiras poderosas e duradouras.
Stevens desafiou a concepção tradicional de que os laços entre mães e filhos se formam gradualmente mediante cuidados e alimentação, ao observar que muitas crianças desenvolviam vínculos especiais com enfermeiras, mesmo sem um cuidado direto anterior. Essa ligação, baseada no afeto mútuo, reflete a ativação de arquétipos femininos nas figuras maternas, uma poderosa força influenciadora na psicologia das mulheres.
O conceito de arquétipo, introduzido por C. G. Jung, descreve padrões de comportamento instintivo presentes no inconsciente coletivo. As deusas gregas, como Deméter, Hera, Afrodite e outras, personificam esses arquétipos, representando modelos de ser e comportamento reconhecíveis em todas as culturas.
No âmbito das deusas virgens, como Ártemis e Atenas, vemos a expressão da independência e autossuficiência feminina. Essas deusas orientadas para a realização pessoal ampliam nossa compreensão dos atributos femininos, incluindo competência e autonomia.
As Deusas e a Mulher
Por outro lado, as deusas vulneráveis, como Hera e Deméter, representam os papéis tradicionais de esposa, mãe e filha, destacando a importância dos relacionamentos interpessoais na identidade feminina. Essas deusas são sensíveis e sintonizadas aos outros, e suas identidades estão intrinsecamente ligadas aos relacionamentos significativos.
Afrodite, por sua vez, representa as deusas alquímicas, que encarnam o amor, a sensualidade e a transformação. Sua busca pela intensidade nos relacionamentos e pela criatividade reflete uma abordagem dinâmica e receptiva à vida e ao amor.
Ao reconhecer e compreender esses arquétipos em nós mesmos, podemos ganhar insights valiosos sobre nossas motivações, comportamentos e relacionamentos. As deusas gregas oferecem um rico terreno para exploração psicológica e autoconhecimento, capacitando as mulheres a abraçarem plenamente sua diversidade e potencialidades.
Deusas Históricas e Arquétipos: Reflexões sobre Poder e Influência Feminina
A figura da Grande Deusa, venerada como a criadora e destruidora da vida, ainda ecoa como um arquétipo no inconsciente coletivo. Em minhas experiências clínicas, tenho testemunhado sua presença manifestar-se de maneiras profundas e impactantes. Um exemplo marcante é o caso de Gwen, uma jovem mãe que, após o parto, mergulhou em um estado psicótico, identificando-se com a Grande Deusa em seu aspecto terrível de destruição. Essa transformação dramática ilustra o poder e a influência dos arquétipos femininos na psique das mulheres.
A Grande Deusa também se manifesta em seu aspecto positivo, como uma força sustentadora da vida. Muitas vezes, as mulheres se veem enredadas em relacionamentos que parecem vitalmente importantes para sua própria existência, em uma ilusão alimentada pelo arquétipo da Grande Deusa. Essa dependência emocional pode levar a consequências devastadoras quando o relacionamento é perdido, chegando até mesmo ao suicídio.
A Grande Deusa
Comparada aos arquétipos das deusas gregas, a Grande Deusa exerce um poder mais amplo e intenso, capaz de distorcer a realidade e despertar medos irracionais. Enquanto as deusas gregas eram mais especializadas em seus domínios, como fertilidade, maternidade e casamento, elas representam forças menos avassaladoras na psique feminina.
Das sete principais deusas gregas, Afrodite, Deméter e Hera exercem o maior poder de influência sobre o comportamento das mulheres. No entanto, é importante que as mulheres resistam cegamente aos ditames desses arquétipos, pois seguir suas demandas pode ter consequências adversas. Embora representem forças instintivas profundas, esses arquétipos muitas vezes não estão alinhados com os melhores interesses individuais das mulheres.
Por outro lado, as deusas “jovens”, como Artemis, Atenas e Perséfone, exercem uma influência menos esmagadora e mais focada nos padrões de caráter. Héstia, a mais velha e sábia das deusas, representa o aspecto espiritual que as mulheres devem honrar em si mesmas.
As deusas gregas servem como modelos arquetípicos que refletem a diversidade e complexidade das mulheres. Cada deusa possui traços positivos e negativos, refletindo diferentes aspectos da experiência feminina. Em uma sociedade patriarcal, as deusas também enfrentaram desafios e limitações, refletindo os modelos culturais e sociais da época.
No próximo artigo, exploraremos mais a fundo o papel das deusas gregas na vida das mulheres contemporâneas, analisando como esses arquétipos continuam a moldar e influenciar a psique feminina em um mundo em constante mudança.
Se você não viu a parte I, acesse: https://travessiaspa.com.br/as-deusas-e-a-mulher-nova-psicologia-das-mulheres/
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