“A Noite Obscura da Alma é uma noção mística, misteriosa e difícil que raramente é compreendida ou discutida. Muitos místicos modernos afirmam que é oportuno examinar o conceito neste ponto da evolução humana.” Em nosso momento evolutivo, há possibilidade de passarmos por diversas pequenas experiências de obscuridade da alma, ensaios e preparação para enfrentarmos a grande provação antes da iluminação.
Essas noites obscuras da alma acontecem de várias maneiras e nos submetem às provações necessárias ao fortalecimento do Espírito sobre a personalidade. Há vários tipos diferentes de noites obscuras. A vida é uma combinação de luz e sombra, ativo e passivo, vivemos a dualidade e aquilo que negamos tende a se reforçar em nossos processos mentais, atraindo cada vez mais experiências nesse sentido da negação. A resistência é uma força de atração. Podemos nos preparar para enfrentar esses testes quando eles vieram, e o primeiro passo é aceitar e encarar com naturalidade, não oferecendo resistência.
Dar passagem implica permitir que a experiência ocorra em seu tempo e depois retorna a luz. Oferecer resistência implica prolongar a obscuridade dolorosa, não permitindo seu fluxo natural. As coisas acontecem a seu tempo e cabe a nós saber lidar com cada uma delas. Se pensamos que somos criadores, podemos estar enganados. Somos mais como forças magnéticas atraindo eventos e experiências existentes, e acomodando elas à nossa maneira de lidar com elas.
Alguns se apegam à dor e ao sofrimento como formas de autopurificação, vitimismo, autoflagelação ou chantagem emocional. Outros simplesmente encaram tudo com naturalidade, dando passagem à vida educadora.
NOITE OBSCURA
O termo “Noite Obscura” veio do grande místico espanhol do século XVI, São João da Cruz, que enfrentou o estágio místico e escreveu sobre ele para ajudar outros. Ele destaca que há duas provações necessárias no caminho para a união divina. A primeira provação ou purificação, que ele descreve como “ativa”, é a parte sensorial da alma. Isso é feito por nós. A segunda é a parte espiritual, e é “passiva”. Essa é feita pelo Divino, então será intensa e de cima para baixo.
O grande poeta místico Rumi enfrentou a noite obscura da alma e nos deixou um legado literário surpreendente, Santa Teresa D’Avila, confidente de São João da Cruz, escreveu o brilhante “O castelo Interior”, que aborda nosso lado obscuro como parte do nosso desenvolvimento espiritual. Certamente é um conceito misterioso.
Afloramento das nossas sombras
Um recente professor espiritual, Eckart Tolle, diz que também vivenciou a noite obscura. Em nossa vida cotidiana, no atual momento da nossa evolução, podemos considerar que a noite obscura da alma não é mais que o afloramento das nossas sombras mais profundas, aquelas que rejeitamos por eras por medo de encará-las, por vergonha. Chega um momento em que elas precisam ser encaradas e iluminadas. Elas nos assombram, nos assustam e nos metem medo. Essas “pequenas” noites obscuras da alma que enfrentamos de tempos em tempos, são sinais de que estamos no limiar de fazer uma grande mudança em nossa vida espiritual.
Devemos encarar isso com naturalidade e nos fortalecer para quando vier a grade noite obscura, aquela na qual nos vemos imersos numa escuridão sem fim e parece que nunca mais veremos a luz. Evidentemente que nós devemos considerar se já estamos no estágio de enfrentar a grande noite em nossa jornada de iluminação. Pequenas obscuridades acontecem de tempos em tempos em nossa vida, como nos preparando e testando nossa vontade e determinação para nos tornar plenamente conscientes e alcançar, no estágio decisivo, a nossa iluminação. Devemos considerar isso, não podemos negar que faz parte da nossa realidade. Se acharmos que a vida é sem dor, podemos nos iludir e fracassar nos processos do autoconhecimento.
Depressão mental
A noite obscura pode ser vista como uma forma de depressão mental no campo da psicologia, mas no campo místico significa muito mais que isso, pois a noção contribui para a recriação profunda do caráter, da purificação e “transmutação em Deus”. É um estágio marcado pelo “fogo negro” da purificação.
Estamos desenvolvendo um novo equilíbrio, portanto, o ser inferior vivencia uma séria de oscilações entre estados de prazer e estados de dor. As rápidas oscilações entre a consciência alegra e dolorosa parecem acontecer mais frequentemente no começo de um novo período do caminho místico — entre a provação e a iluminação e, novamente, entre a iluminação e a noite obscura. Contudo, nada se compara à própria noite obscura. Há sofrimento amargo e constante – muito pior do que o estágio de provação.
Muitos de nós costuma se queixar das provações pelas quais passa na vida. Mas elas, por mais dolorosas que possam parecer, e muitas vezes são, ainda assim não se comparam com os sofrimentos angustiantes da noite obscura da alma, segundo nos relatam diversos místicos. É como se o “fogo negro” se acendesse para queimar as impurezas que não podemos levar adiante, em nossa fase de iluminação espiritual.
A Noite Obscura pode ser identificada em alguns tipos:
1. AUSÊNCIA DE DEUS — Deus se ausentou deliberadamente e os místicos se sentem abandonados.
2. SENTIDO DE PECADO — Um tipo de lucidez nova e pavorosa, pois os místicos são inundados pela pureza de Deus. A visão do Bem traz ao ser um sentimento de desesperança e desamparada imperfeição. 3. FADIGA EMOCIONAL COMPLETA — Desaparecimento de paixões e substituição por um sentimento de tédio, que não consegue ser superado.
4. ESTAGNAÇÃO DA VONTADE E DA INTELIGÊNCIA — O ser não pode controlar suas inclinações e pensamentos. Vícios são despertados e os força no campo da consciência.
5. DESEJO INSUPORTÁVEL DE “VER DEUS” — Essa é uma forma de grande desolação — êxtase obscuro ou “dor de Deus”. É uma solidão extrema e o místico não encontra nenhum companheiro em qualquer criatura terrena.
Tipos de sofrimento
Todos esses tipos de sofrimento parecem inacreditáveis depois de um grande anseio pelo Divino, mas os místicos são unânimes em afirmar que todas essas características fazem parte de um estágio necessário para o crescimento do desenvolvimento espiritual. Esses místicos consideram esses aspectos para representar a purificação da vontade ou personalidade, em preparação para a união.
A noite obscura tente a se estabelecer gradualmente; os poderes e intuições do ser sendo retirados um após o outro, até a “morte mística”. O propósito é curar a alma da tendência inata de buscar e repousar em alegrias espirituais — confundir a realidade com a alegria pela contemplação da realidade. O ser ascendente deve deixar as satisfações infantis para trás; e tornar o seu amor absolutamente imparcial, forte e corajoso.
O buscador
O maior que puder suportar. O buscador aprende a interromper todo pensamento de si mesmo. É uma morta — uma rendição a Tudo. A alma se reduz a Nada. Fica claro que um processo tão drástico de desindividualização não está suscetível a acontecer sem estresse. A noite obscura ou “morte mística” faz parte da transição da multiplicidade para a Unidade. Esse estresse, tribulação, solidão são parte essencial do caminho dos Muitos ao Único. Depois do ato de completa rendição, a Luz aparece.
A evolução espiritual começa pelo desenvolvimento da individuação, reconhecimento da individualidade como uma unidade do Todo. Uma “separação” da multidão, não no sentido literal do apartar-se do mundo e dos outros, mas de tornar-se consciente de si mesmo como um ser dotado dos atributos divinos, capaz de pensar, discernir e escolher o próprio caminho no mundo. Às vezes isso é mal-entendido como individualismo egoísta. E pode ocorrer, se não houver vigilância constante. No estágio pós-noite obscura, a personalidade individualizada se dissolve e a consciência se expande.
O “eu” desaparece e o Ser se torna real.
O propósito aqui é nos preparar, aprender e compreender que os episódios provadores de nossa resistência e vontade são ensaios que nos fortalecem e nos preparam, para quando a grande noite obscura da alma vier ao nosso encontro.
Texto extraído dos conteúdos da jornada de autoconhecimento, instituto luz da Consciência: https://luzdaconsciencia.com.br/